O Brasil possui bons
resultados no ranking de produção cientifica. São cerca de 25 mil publicações
por ano, publicações essas que não são feitas por cientistas e sim por professores
de nível superior. Segundo a neurocientista e professora do Instituto de
Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Suzana
Herculano-Houzel, a não regulamentação da profissão de cientista atrasa o
desenvolvimento tecnológico do Brasil. A professora ainda acrescentou “Não
posso dizer que neurocientista é minha profissão, porque a minha profissão de
cientista não existe no Brasil. Não está na tabela das profissões
regulamentadas pelo Ministério do Trabalho (MTE). Para poder atuar como
cientista, eu atuo como professora de nível superior, eu literalmente faço
ciência nas horas vagas”.
A professora explicou que “A
produção científica cresce ao longo dos anos por causa do número de mestres e
doutores que são formados no Brasil. São esses jovens que produzem o
conhecimento cientifico”, disse.
Hoje a ciência no Brasil é produzida
pelos alunos de pós graduação
o trabalho que
os jovens exercem não é chamado de trabalho e sim estudo. “É como se eles
investissem na educação deles. Outros países já não cometem mais esse erro. O
erro é não reconhecer esse trabalho como qualquer outro”, lamentou. “É um
esforço laboral que gera um produto científico. Por que o jovem cientista recém
graduado precisa passar pela humilhação de continuar sendo estudante?”.
Durante uma graduação o jovem já faz
ciência como aprendiz, ou seja, um estagiário durante a iniciação cientifica,
ganhando uma bolsa que tem o valor menor que o salário mínimo muitas vezes.
Para trabalhar com ciência, quando ele se forma tem que entrar para
pós-graduação. “Isso significa se sujeitar a uma bolsa de mestrado de
R$ 1,5 mil reais mensais fixos pelos próximos dois anos sem qualquer direito
trabalhista ou qualquer outro trabalho para complementar a renda”.
A professora criticou ainda a
obrigatoriedade em assinar uma declaração de que não vínculo empregatício do
pesquisador com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) e/ou com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(Capes). “É preciso passar por mais uma humilhação: o atestado de pobreza.
Enquanto isso seus colegas recém formados em engenharia e direito, por exemplo,
já têm trabalho de verdade, ganhando de verdade”.
Para o jovem continuar trabalhando
como cientista, ele precisa ingressar num programa de doutorado. “É a única
atividade de emprego se ele quiser atuar como cientista. A bolsa também tem
valor mensal de R$ 2,2 mil, sem nenhum vínculo empregatício e benefícios
trabalhistas”, comentaram.
De acordo com Suzana, é possível
fazer contratações por fundações e institutos de ciências ligados as
universidades, que poderiam receber dos governos os valores que hoje são
pagos como bolsa, com contrato de trabalho e todos os direitos empregatícios.
“Com a obrigatoriedade de contratação virá à possibilidade de salários com
valores competitivos”, descreveu.
Para ela, dessa forma, a ciência
caminha e a sociedade cresce. “É fundamental para a soberania de uma população
que ela valorize a produção de conhecimento cientifico. Isso começa por
valorizar seus cientistas. Fazer ciência no Brasil hoje, infelizmente, é uma
péssima decisão profissional com pouquíssimas perspectivas”, finalizou.